segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 Por que o dependente químico continua a recair? 


O que é a Dependência química?

 Existem algumas teorias que podemos resumi-las em quatro modelos básicos. O modelo de doença, modelo de comportamento aprendido, o modelo psicanalítico e o modelo familiar. Parece haver nos transtornos de abuso de substâncias algum componente biológico, fatores psicológicos, sociológicos, culturais e espirituais que desempenham relevante papel na causa do transtorno, um fenômeno muito complexo. 

No processo de parar de usar drogas requer que a pessoa continua parado. Então a pergunta para reflexão aqui é: O que leva o DQ a não funcionar na vida, e continuar recaindo mesmo após passar por centros de tratamento? 

A recaída faz parte do processo da doença e recuperação. 

O Dependente químico tem dificuldade para estabelecer novo estilo de vida – novo mundo. Ao transitar entre os mundos, submundo das drogas e mundo sem drogas, a pessoa fica presa, encalacrada aos desafios da vida, com suas limitações e inabilidades. Pois, não sabe viver de outra maneira - inadequações. Se encontra perdido frente as armadilhas e obstáculos encontrados no processo. Não desenvolveu, e muitos não irão desenvolver nunca, requisitos de autocontrole, responsabilidade e enfrentamento das dificuldades. 

Por outro lado o Dependente tem características que prejudica sua performance para o esforço esperado da jornada de recuperação, e demonstra claramente alguns requisitos que favorecem a recaída. Veja abaixo alguns deles. 


Requisitos pra recaídas: 


Dependente  busca prazer imediato – imediatista. A droga dá prazer que a pessoa não encontra em nenhum outro lugar. 

Falta de prazer na vida - tédio e intolerância, frustração, fracasso – alienar 

Baixa estima – sentimento de incapacidade não consigo, não quero. O eu não quero, por trás é uma insegurança e mecanismo de defesa por medo de frustração. 

Isolamento social e solidão - inadequação social onde a pessoa não consegue sobressair sem usar. Não consegue desenvolver nesse novo estilo de vida alguém que ela sinta bem, deslocada e confortável. A família acha que é bom estar quieto no isolamento familiar, lego engano, pois, é só uma questão de tempo pra pessoa não conseguir mais se manter nesse estado sem buscar refugiar na droga. 

Negação e auto suficiência em continuar frequentando ambiente do bar e biqueiras, local de ativa e amizades que continua usar drogas – “uma é demais, mil não basta.” 

Desorganização da vida pessoal, vida familiar e relacionamentos, trabalho - Dependência financeira e emocional - deficiência do DQ – depende de outros para funcionar, não assumir responsabilidade pessoal, inabilidade para funcionar nas várias áreas da sua vida. O contrário de dependência não é abstinência, o contrário de dependência é independência. 

Preguiça e procrastinação, orgulho, prepotência, arrogância e grandiosidade, manipulação e vitimismo. A vítima entende que o culpado é o outro, não se responsabiliza.  

O Dependente químico está permeado desses defeitos de caráter  latentes que o mantem na zona de conforto, onde vai administrando com certa destreza, elaborada ao longo dos anos, sabe muito bem manipular o papel do bonzinho pra fazer as coisas acontecer do seu jeito, quando isso não funciona ele fica agressivo, ataca a família, ou vai pra esse lugar da vítima, não assume a responsabilidade nem por sua recaída, vai contar uma história para justificar a recaída e culpar terceiros, pois, não assume sequer que quer usar drogas, e constrói enredos para justificar porque ele precisa da droga, usando todos esses defeitos de caráter. Vai se ocultando por trás dessas defesas armadas no seu processo. 

 

Família disfuncional - facilitações x prejudicações  


A família não entende ao ser apontada como facilitadora, pois, quem usa drogas é o DQ, sim, se tem alguém pra ser responsabilizado é o próprio DQ, que se não estivesse usando drogas a família não estava adoecendo junto com a Co dependência. Porém, o ambiente familiar é favorável para as recaídas também, porque sua dinâmica é disfuncional. Ciclo doentio dos papeis da vítima, salvador e acusador, que facilita para o DQ volta ao uso. Não quero aqui usar uma teoria de culpas. Não é isso. No entanto, percebemos que essa dinâmica favorece para manter o problema existindo e não caminha pra solução. 


Bert Hellinger vai falar que existe duas funções que é a base de toda família, as funções paterna e materna. 

Função paterna – regras, limites, responsabilidade, trabalho, dinheiro, compromisso . 

Função materna – acolher, dar amor, cuidar e alimentar, proteger. 


O que acontece dentro de um centro de tratamento que  o DQ não precisa de usar drogas, e depois ao sair ele volta a recair? 


Centros de tratamento para dependência química geralmente oferece quadros de tratamento terapêutico, recursos  e ferramentas para ajudar no processo da DQ...   aqui o próprio Dependente químico deve ser  responsabilizado, por pegar tais ferramentas para funcionar na vida, fora da instituição.  No entanto, por vezes, tais CTs pode favorecer mais a sua deficiência, tornando-os institucionalizados. Ou seja,  o DQ dentro do CT não precisam da droga pra viver, passa um tempo em reclusão sem necessidade de usar, mas, ao sair não funciona do lado de fora da instituição. 


Ao meu ver, dentro da problemática da dependência química existe uma inabilidade operacional da função paterna – auto responsabilidade, independência, trabalho, e dinheiro, compromisso. O ponto de encalacramento que está oculto. A função da droga vem subverter a falta da função paterna no sistema familiar. 


Metáfora aquário - Família disfuncional x Centro de Tratamentos 


Imagine um aquário que representa a família disfuncional do DQ, com a água suja, cheia de conflitos e confusões, as facilitações e caos inseridos ali no seu sistema. E imagina por outro lado, outro aquário que representa o ambiente limpo e organizado dos CTs, onde tem limites e regras pré-estabelecidos, sim pra sim, não pra não, e cada função no seu devido lugar. Pois bem, agora  visualize o peixe DQ sendo retirado do ambiente familiar e sendo colocado dentro do ambiente do CT, e vivendo ali por um período de tempo. Depois ele é retirado e colocado de volta no mesmo ambiente familiar disfuncional. O que vai acontecer em breve é que o ambiente exerce poder e influencia sobre o DQ, que vai precisar novamente da função da droga para alienar e fugir dessa realidade insuportável e desconfortável. 

 

 A recaída faz parte do processo, e pode ser até essencial - a pessoa pode aprender com a experiência e recomeçar mais consciente. Pode favorecer na mudança de hábitos, e criação de novo estilo de vida. 😏🙏 


Modelo de recaídas - desequilíbrio no estilo de vida. 


 

 Prevenção de recaída - *DAI= decisões aparentemente irrelevantes. 


A dependência química é uma doença reconhecida pelo OMS, um transtorno mental desenvolvido pelo uso e abuso de substâncias psicoativas. Dentro do contexto da doença acontece a evolução dos transtornos para quadros mais crônicos,  a dependência química do sujeito também vai progredindo  e criando tolerância, aumentam-se as doses, ou  passa para outras drogas mais pesadas desejando assim, reviver os efeitos iniciais obtidos pela substância. 


Observo  três tipos de DQ que se destacam segundo minha experiência empírica no submundo das drogas, no convívio familiar e nos centros de tratamento. 


Tipo 1- Condicionado ao uso – em lua de mel com as drogas, em negação não quer parar de usar, e pode ser internado pela família por várias vezes, que ao sair vai se envolver de tal forma com o ambiente de ativa, até conseguir ter uma recaída. O DQ é mentiroso e se sente vítima, não assume responsabilidade, nem assume que quer usar, vai construir enredos para culpar terceiros por sua recaída. Apesar de enganar e mentir pra família, ele está mentindo pra si mesmo. Ao longo da progressão da doença é forte candidato ao tipo dois ou morte precoce por envolvimento no crime, acidentes devido ao uso abusivo. Os três Cs. Cadeia, Clinica e cemitério.  


Tipo 2- Cognição afetada, esse tipo busca  auxílio em caps e centros de tratamento para redução de danos, estão institucionalizados, não funcional, auxilio doença. Apesar de frequentar Centro de Tratamentos vai continuar a usar por progressão do transtorno mental da DQ e outras comorbidades. 


Tipo 3- Está sofrendo no uso, busca refúgio e benefícios da droga, mas, não está confortável, já entendeu que tem mais da vida do que vem experimentando. Essa pessoa quer e não quer parar de usar, conflito chamado ambivalência, oscilando nesse lugar. Ela quer parar de sofrer as consequências desagradáveis do uso, mas, não sabe como sair de lá. Precisa de ajuda, orientação e estímulo motivacional para recomeçar. 


família geralmente não sabe como agir com o DQ e precisa encontrar ajuda para não estar a facilitar o seu uso de drogas em vez de ajudar a se libertar delas. Ela precisa trabalhar nesses papeis e funções que estão disfuncionais. As facilitações e o não entender o contexto e função da droga na vida do adícto, os julgamentos e críticas, as culpas, ou rotular a pessoa, achando que é sem vergonha por não querer funcionar, tal censura familiar gera tantos conflitos que não ajuda no tratamento do DQ, que vai continuar a precisar da droga para lidar com o desconforto, querer anestesiar e alienar dessa realidade pra ele insuportável. E nem o facilitar de pagar contas do traficante, assumir seus compromissos e responsabilidades, que também deixa o ambiente favorável para o DQ continuar no uso. 


Uma grande dificuldade do DQ é estar consigo mesmo e se envolver nesse ambiente interno, oscilando muito no passado e futuro, viajando e projetando coisas irreais, fantasias,  ansiedade e medo do futuro incerto, inseguro em dar os próximos passos, ou  questões mal resolvidas, preso a ressentimentos e mágoas que passou. Sem se dar conta que águas passadas não movem moinhos. O passado nos serve sim de retrovisor, para nos gerar aprendizados e nos remeter às possibilidades dessa grande sabedoria das etapas vividas no passado, aceitando as coisas como foi, exatamente como foi. Honrar nosso passado e história de vida. Aceitando a vida como ela é.   

O DQ é o único que pode fazer algo por si mesmo, ele é uma rica fonte de solução do problema, e quando ele quer funcionar isso vai acontecer, mas, muitas vezes não está disposto a enfrentar os desafios que se exige para se libertar, ficando condicionado nessa zona de conforto e encalacramento. 


Parar de usar é uma postura, um estilo de vida – assim como a herba life que traz um estilo de vida mais saudável e ajuda a pessoa a emagrecer. Mas tem que ter o esforço e motivação da pessoa pra funcionar. 

Quando você começa a perceber e identificar esse mapa rodoviário da recaída e da recuperação, se torna mais consciente do processo e dificilmente vai recair. Pois, conhece o caminho, consegue ver as situações de risco e armadilhas, em estado de alerta.  Treinar habilidades para possíveis enfrentamentos o deixa apto para atravessar os obstáculos. Você se põe em movimento,  começa a engrenar a marcha da vida para funcionar. 

O desafio é crescer e crescer dói. 

Você sai da dependência pra independência. 

Para com os melindres, mi mi mi – a historinhas e justificativas, os enredos criados para justificar sua vida de uso e abuso da droga. 

Sair do Auto engano e desonestidade consigo mesmo. Aceitação das  três realidades, auto aceitação, aceitação do outro e aceitar a realidade de mundo.  

Pisa no chão - sair da ilusão e fantasias 

Desapego do egocentrismo  e retirar as expectativas irreais. 

Auto estima – se permitir ser vulnerável e se colocar em estado de recurso, acreditar ser possível. Você atrai aquilo que pensa, sente e age. Isso é quântico e bíblico, Jesus nos disse: “crer para ver...” 

Coragem para recomeçar - ir pra zona do desconforto. 

Aprende a viver um dia de cada vez... 

Quando você começa a caminhar e senta na sua realidade e pisar no seu chão, e começa a se empoderar, e entrar no seu eixo e equilíbrio, e construir esse novo estilo de vida, é crucial estar em estado de presença, a vida acontece aqui e agora. 


A jornada é de desconstrução do velho eu e reconstrução do novo ser.  Ter um objetivo claro, um foco único de parar de usar e transitar para esse novo mundo livre das drogas. Sair da cidade da droga para a cidade sem droga. Transitar entre os dois mundos pode ser perigoso. Parar de usar drogas é simples. O desafio é fazer a vida acontecer sem a necessidade de voltar ao uso, aprender a lidar consigo mesmo... Suprir a função da droga na sua vida. É sair da zona de conforto e ir pra zona do desconforto. Ao adotar esse novo estado, a função da droga perde o encanto, e você não precisa mais usar. 

Parar de usar é simples, mas não é fácil... não tem mágica. Mas, é muito possível! 🐛🦋😘 


Assista o vídeo no youtube 👇

 https://youtu.be/5gCXf2FHRgk



CLÁUDIA OLIVEIRA

Psicoterapeuta especialista em Dependência Química.

Mentoria "Existe vida após as drogas"
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http://institutoportaldaterapia.com.br/

 

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